terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA - DAY AFTER OU DAY BEFORE?

Na madrugada de sábado, dia 26, voltava para casa, vindo do baile e jantar de formatura de minha sobrinha Camila. A festa, em um grande espaço de eventos da capital, foi muito bonita: amplo salão feericamente iluminado e decorado com muitas faixas e contornos, o palco para apresentações musicais, as áreas para os convidados, as ilhas para comidas e bebidas...tudo, até aí, funcionando bem. O mesmo não se podia dizer dos sanitários. Eram poucos, malcheirosos, sem papel-toalha, e sem quem cuidasse da manutenção da limpeza! Será que o mesmo não ocorreria em relação à manutenção da segurança? Apesar disso, a festa - como diriam os jovens formandos - "rolava legal"! Só não fiquei até mais tarde (na verdade, até mais cedo...) porque sou excelente boêmio... até, no máximo, antes da meia noite. (Talvez eu tenha síndrome de Cinderela e receie virar abóbora após a décima segunda badalada...).

Na madrugada seguinte, a de domingo dia 27, na cidade gaúcha de Santa Maria, na Boate Kiss, um pavoroso incêndio ceifava a vida de 231 pessoas - em sua maioria entre 18 e 25 anos - e deixava cerca de 130 feridas e centenas de famílias enlutadas, desconsoladas e perplexas: era difícil acreditar que seus filhos, até poucas horas antes vivos, alegres e saudáveis, jamais pudessem ser vistos com vida!

Ao ter conhecimento da tragédia, não pude deixar de pensar no evento da madrugada anterior. Mentalmente revi todo o ambiente: a aglomeração e dificuldade para entrar, os seguranças exigindo a entrega dos cartões-convite para franquear o ingresso, um discreto, mas presente empurra-empurra. Isso, repito, na entrada! Imaginei o que aconteceria, em caso de incêndio, na saída...!

O que quero dizer com isso é que, quase sempre, a preocupação dos organizadores e responsáveis se concentra no esquema de entrada, sem dar muita importância à saída - desde que fique comprovado o pagamento! Alguns sobreviventes do incêndio relataram que, ao tentar sair da boate, foram barrados pelos seguranças, que exigiam a apresentação do comprovante de quitação de despesas! A conclusão é obrigatória: não estavam ali como seguranças pessoais, mas seguranças patrimoniais!

E então, no "day after", autoridades de todas as áreas e esferas comparecem consternadas e solícitas, mostrando solidariedade e pesar pelo ocorrido, comprometendo-se a tomar todas as providências  possíveis e imagináveis para que não se repitam tragédias semelhantes. Mas não é o que de fato acontece. Afinal, desgraças anteriores - no Brasil e em outros países, como Estados Unidos, Argentina, Venezuela, México e China - bastariam para levá-las a cuidar melhor da legislação e da fiscalização de locais e de eventos que congregam grandes públicos.  Ou seja, em vez da lamentação no "day after", deveriam cuidar da prevenção no "day before",  pois, como ensina a sabedoria popular: "Prevenir é melhor do que remediar"
Há que se considerar, ainda, que devem passar por um "pente fino" não apenas boates ou casas de espetáculos, mas também salões de eventos, espaços para formaturas, exposições, espetáculos e que tais. Antes que novas tragédias vitimem mais pessoas!

Em tudo isso, fica a doer em nós o indescritível sofrimento das famílias enlutadas. Que Deus, nosso bom pai, as conforte, e lhes faça saber que a vida continua do outro lado da existência, onde seus entes queridos se encontram e em que "Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede ... e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima"!  (Apocalipse, capítulo 7, versículos 16 e 17).


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

DE NOVO O DIA 6 DE JANEIRO: REIS MAGOS OU BEFANA?

Na Europa, e particularmente na Itália, 6 de janeiro é conhecido como "O dia da Befana", como, aliás, bem lembraram algumas pessoas que leram meu post anterior "DIA DOS 3 REIS MAGOS: MELCHIOR, GASPAR E BALTASAR..."

Na passagem do dia 5 para 6, as crianças colocam suas meias sobre a lareira ou penduram seus sapatos na porta e aguardam, ansiosamente, a chegada do dia seguinte. É que à noite a Befana colocará ali doces e presentes para as que foram boazinhas e carvão para as não foram tão boas! Ela se apresenta como uma bruxa (strega, em italiano) montada em uma vassoura e com um saco cheio de guloseimas e presentes...
Em Roma, o ponto de encontro da criançada é a Piazza Navona. Ali se realiza uma grande festa, com balões, barracas com centenas de meias cheias de balas, artistas de rua e vários brinquedos, incluindo "La giostra" - um disputado carrossel fabricado em 1896, na Alemanha, o "Horst Und Webber"!
Essa figura mística e mítica é tão importante que tem até música própria em sua homenagem:

"La Befane vien di notte/ Con le scarpe tutte rotte/ Col cappello alla romana/ Viva! Viva La Befana!"

Seu nome vem do vocábulo grego Epiphaneia, isto é, Epifania, que traduz a ideia de  manifestação, revelação, aparição, "um momento privilegiado de revelação" e, em princípio, refere-se ao episódio do reconhecimento do menino Jesus como o Messias pelos (Reis) Magos, como exposto no texto já referido. Sua celebração se dava doze dias após o Natal, em 6 de janeiro. Depois da reforma do calendário litúrgico de 1969, passou a ser comemorada dois domingos após o 25 de dezembro. Antigamente esses dois eventos, unidos, compunham a chamada "Festa das Luzes". Em seu encerramento, é que - ainda hoje - são desmontados a árvore de Natal e o Presépio...
A Igreja Católica classifica como Epifania três eventos: a Epifânia propriamente dita, assinalada pela adoração dos Magos do Oriente; o batismo de Jesus por João Batista, no Rio Jordão e o início de seu ministério, com o primeiro milagre, nas Bodas de Caná da Galileia.

E que relações existem entre a Befana e os (Reis) Magos?

Diz a tradição que os Magos, em sua peregrinação, pediram informações a uma velhinha sobre o local do nascimento de Cristo. Agradecidos, convidaram-na para ir em sua companhia. Não aceitando de imediato o convite, ela se arrependeu depois e, enchendo uma cesta de doces, foi em busca do recém-nascido. Como não conseguiu encontrá-lo, passou a visitar todas as casas com crianças, levando-lhes doces e brinquedos, na esperança de encontrar Jesus.

Pois é, assim como Papai Noel usurpou o lugar de Jesus no Natal - data de Seu nascimento - a Befana se apossou do lugar dos (Reis) Magos...

Isso mostra que "golpe de estado" não acontece só em política e "genéricos" não existem só na área farmacêutica"!!!

sábado, 5 de janeiro de 2013

DIA DOS 3 REIS MAGOS: MELCHIOR, GASPAR E BALTASAR...

O mundo cristão comemora, no próximo em 6 de janeiro, o dia dos Três Reis Magos: Melchior - ou Belchior - , Gaspar e Baltasar, que teriam vindo, respectivamente, da Pérsia, da Índia e da Arábia para adorar o recém-nascido menino Jesus.
Só que, se tomarmos por base o que estritamente diz a Bíblia, não eram três, não eram reis, não se chamavam Melchior, Gaspar e Baltasar e não há definição de que regiões específicas vieram!
A referência bíblica do evento encontra-se apenas no Evangelho de Mateus, no capítulo dois:  

"E, tendo nascido Jesus em Belém de Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que UNS magos vieram do oriente a Jerusalém".  (Versículo 1).

"E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofereceram dádivas: OURO, INCENSO E MIRRA". (Versículo 11). 

É isso que diz o texto bíblico. A tradição e a interpretação - a chamada exegese - é que acrescentaram os detalhes e especificações hoje conhecidos. Diz um desses relatos:

"Melchior, rei da Pérsia, cujo nome significa Rei da Luz ("melichior") ofereceu ouro; Gaspar, rei da Índia, ou "O Branco", significado do nome "gathaspa", trouxe incenso; e Baltasar, rei da Arábia, - seu nome se traduz por Senhor dos Tesouros ("bithisarea") -, ofertou a mirra". 

São Beda, o Venerável (673-735), em seu tratado "Excerpta et Colletanea", se estende ainda mais:                          

"Belchior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancos, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada em com quarenta anos. Partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz."

Mais uma vez, constata-se que não nos devemos prender a detalhes histórico-geográficos de somenos importância. Como diz o personagem Riobaldo, de "Grande Sertão, Veredas", de Guimarães Rosa, "O diabo mora nos detalhes". Sempre e em tudo o que importa é a realidade espiritual, não as palavras que procuram defini-la. Aliás, é de O Pequeno Príncipe de Saint-Éxupery,  a frase "A linguagem atrapalha".

Fiquemos, pois, com o fato espiritual: a oferta feita ao Menino-Deus pelos Magos do Oriente, simbolizando: 
sua realeza, pelo ouro; sua divindade, pelo incenso; e seu sacrifício a nosso favor  pela mirra, que viria  a ser usada, com aloés, no embalsamamento de seu corpo carnal, oferecido em holocausto, por nós, como "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"!