terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O PAPA É HUMANO...

Numa atitude a um só tempo de grandiosidade e humildade, Bento XVI anunciou sua renúncia ao cargo vitalício de Papa - o 265° da Igreja Católica Apostólica Romana - : "Depois de ter repetidamente reexaminado minha consciência perante Deus, cheguei à certeza de que minhas forças, devido à minha idade avançada, não são adequadas para o exercício do ministério de Pedro."
Essas palavras mostram quão simples é esse homem, nascido Joseph Alois Ratzinger, em 16 de abril de 1927, e desde 19 de abril de 2005, líder máximo da Igreja Católica, ouvido e acatado em todo o mundo. Humano, como todos nós, ele usa um marcapasso e se ressente de  outros problemas naturais da idade. Não é infalível, super-humano, como não o era Pedro que, aliás, foi chamado à atenção por São Paulo, que assim diz, na Carta aos Gálatas, capítulo 2, versículo 11: "E, chegando Pedro a Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível". 

Foi o Concílio Vaticano I, realizado no papado de Pio IX, que, em 18 de julho de 1870, estabeleceu, no 4° capítulo, da 4ª Sessão, o dogma da Infalibilidade Papal. Dogma, porém, que se restringe à situação Ex Cathedra - literalmente "da Cadeira" - isto é, quando trata de questões de fé, moral e costumes.

A visão altruísta e sincera de Bento XVI fá-lo perceber quanta energia não só espiritual - que possui - mas também física e mental exige o comando de um complexo de extensão universal, que tem apresentado situações  sociopolíticas e eclesiáticas intrincadas, como o déficit de US$ 18,4 milhões no exercício de 2011; os escândalos envolvendo os desvios comportamentais de prelados e fieis em várias partes do mundo; os debates sobre a posição da Igreja na questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto, as divergências das linhas teológicas etc. E ele tem limitações, como nós; é humano, como nós.

A história registra uma época em que o papa era deificado. Detinha, então, não só o poder espiritual, mas também o temporal, posicionando-se acima de reis e imperadores. É bem sintomático o episódio que, no século XI, envolveu o papa Gregório VII (nascido em 1020 ou 1025, falecido em 25 de maio de 1085, tendo ocupado o trono papal de 1073 até sua morte) e Henrique IV (11.11.1050 - 07.08.1106), poderoso imperador do Sacro Império Romano-Germânico, na chamada Controvérsia da Investidura. O soberano insistia no direito de um príncipe secular presidir à investidura dos príncipes da igreja, especialmente os bispos. Contrariado com isso, Gregório VII o excomungou, no dia 22 de fevereiro de 1076. A consequência direta e imediata foi que todos os vassalos deixaram de acatar a autoridade do rei, não lhe restando alternativa senão dirigir-se ao Papa para pedir-lhe perdão! Este, que se encontrava no Castelo da condessa Matilde, em Canossa, fez o imperador esperar do lado de fora, na neve, descalço e com apenas uma túnica de lã, durante 3 dias, de 25 a 27 de janeiro de 1077. Só então, a pedido da condessa, perdoou-o!

A mesma história mostra que Bento XVI não será o primeiro papa a renunciar. Antes dele, outros o fizeram, especialmente estes quatro: Bento IX em 1045; Celestino V em 1294 e Gregório XII em 1415.
No livro "Luz do Mundo", que publicou em 2010, ele admite ser possível ao Papa resignar ao cargo, especialmente "por não se encontrar física, mental ou espiritualmente capaz de cumprir as funções". Deixa claro, entretanto, que "nunca se demitiria devido às dificuldades de seu pontificado, como no caso de abusos sexuais na Igreja", considerando que "quando o perigo é grande não se pode fugir", e "deve-se resistir e superar a situação difícil".
Com isso, demonstra que sua saída não é para não enfrentar os problemas, mas para dar lugar a quem - com mais vigor do que existe em seu combalido físico e menos idade que seus 85 anos assinalam - possa reunir melhores condições de superar as atuais dificuldades da Igreja.

Por estas e outras razões, Joseph Alois Ratzinger - o Papa Bento XVI - tem recebido palavras de apoio, solidariedade e compreensão de autoridades políticas, sociais e religiosas de todo o mundo!

Que ele possa dizer como São Paulo: "Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé"!

Um comentário:

  1. Quem seria eu para dizer que isso ou aquilo esta errado, mas, quando Deus dá o cobertor conforme o frio, será que Deus não daria os subsideos para ele governar este cargo, ele tem todo o direito de jogar a "toalha" mas a parabola dos talentos não se aplicaria a isso professor JB?

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