terça-feira, 22 de maio de 2018

UM CONTO DE FADAS MODERNO - "O AMOR É FORTE COMO A MORTE"

Ele e ela se apaixonaram profundamente! E queriam se casar!
Até aí, tudo bem: desde que o mundo é mundo, paixões acontecem e, quase sempre, levam ao casamento.
Mas aí entra o detalhe. E, como insinua Magalhães Rosa em seu "Grandes sertões, veredas", o diabo se esconde nos detalhes.
Embora detalhe, termo oriundo do francês "détail", se refira a coisa de pequena significância - tanto que um de seus sinônimos é pormenor - nem sempre é essa a aplicação que lhe é dada. Tenho visto e ouvido pessoas falarem "um detalhe importante" ou "um grande detalhe"... Então, entremos na onda: no nosso caso, havia um "grande e importante detalhe"!
Ele era da primeira linha da nobreza da tradicionalíssima Casa Real da Inglaterra! Estava na linha de sucessão monárquica. E ela era americana. Logo, plebeia e - pior ainda - divorciada! Pronto! Isso derretia qualquer sonho de "final feliz" para aquele férvido romance...
Toda a nobreza caiu em cima dele! De forma alguma poderia conciliar sua condição de virtual soberano com o casamento uma mulher naquelas condições! "Never, never, never", era a peremptória afirmação!

E aí vem mais um "detalhe importante": o caso não é esse recente, não... Ele ocorreu na primeira metade do século XX!
Quem assim se apaixonou foi Edward Albert Christian George Andrew Patrick David, que seria rei do Reino Unido e dos Domínios da Commonwealth e Imperador da Índia! Nascido em 23 de junho de 1894, em 1934 - ao conhecer a americana Bessie Wallis Simpson - contava 40 anos, e era o solteirão mais cobiçado da Europa e do mundo! Com tantas pretendendentes "cabeças coroadas" a seu redor, ele caiu de amores por aquela mulher, anteriormente divorciada de Earl Winfield Spencer e então casada com Ernest Aldrich Simpson!
Após divorciar-se também desse cônjuge, ela se julgava apta a desposar Edward... Mas não!
A situação, que já não era boa, agravou-se com a morte do pai de Edward, rei George V, o que o forçou a assumir o trono em 20 de janeiro de 1936, com o título de Edward VIII. Na mesma proporção em que sua paixão crescia, crescia também a opressão da corte, exigindo o fim do romance...
Foi então que ele tomou uma surpreendente decisão: disse não à coroa britânica, e sim à "coroa" americana!
Deixando o status de rei, recebeu o título de Duque de Windsor, e Wallis o de Duquesa de Windsor. Passaram a viver na França, onde ele faleceu em 28 de maio de 1972, e ela em 24 de abril de 1986.

Agora, em nossos dias, na primeira metade do século XXI, a história se repete!
Ele e ela também se apaixonaram. E também queriam casar.
E novamente adveio o detalhe: ele é membro da primeira linha da mesma tradicionalíssima Casa Real da Inglaterra, e igualmente na ordem de sucessão ao trono, embora na sexta posição. Ela é americana, portanto plebeia, divorciada e, além disso, afrodescendente e mais velha do que ele!
Tinha tudo para dar um imbróglio pior do que o dos antepassados Edward e Wallis... Só que não deu!
Em clima inimaginável para a velha época, a corte aceitou serenamente a decisão do príncipe Harry de se casar com a ex-atriz americana Maghan Markle, e ofereceu uma grande festa, exatamente no Castelo de Windsor! Os olhos do mundo todo, através da maravilha da TV, da Internet e de outras parafernálias eletrônicas, assistiram à celebração inteirinha. Com mais um detalhe: os pontos altos da cerimônia, o negro spiritual "Stand by me", entoado por "The King Choir" e o bispo americano Michael Cury, que proferiu vibrante e tocante sermão , tinham "o pé na cozinha"!
Sua inspirada mensagem tomou por base o belo texto de Salomão, em Cântico dos Cânticos:
"O amor é forte como a morte"!

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