quarta-feira, 3 de julho de 2013

O MENININHO QUE NÃO QUERIA VIVER NO BRASIL

Ele tinha apenas cinco anos. Fazia, singelamente, os convites para a comemoração de seu aniversário a ocorrer dentro de alguns dias. Porém, dizia sempre a seus país que não queria viver aqui. Queria voltar à sua terra natal, a Bolívia...
Fazia 6 meses que sua família, muito pobre, havia chegado ao Brasil em busca de melhores condições de vida. Moravam numa casa miserável, na Zona Leste, junto com outros humildes conterrâneos.
Seus pais, como tantos outras pessoas vindas daquele país, trabalhavam em confecção, ganhando um salário tão vil, que os aproximava da condição de escravos!
Lamentavelmente, muitos dos cerca de 400 mil bolivianos que vivem - melhor: moram em São Paulo, porque não se pode chamar viver à sua situação - passam por problemas semelhantes. Por volta de 30 mil deles são emigrantes ilegais e, por não ter documentos em ordem, não podem abrir conta em banco, tendo que guardar, por pouco tempo, é verdade, o dinheiro em casa.
Então, numa triste noite de junho, seu casebre foi tomado de assalto por seis marginais armados de revólveres e facas.
Exigiram dinheiro. E os pais do menininho lhe entregaram tudo o que tinham: R$ 4.500,00. R$ 4.500,00 que deveriam ter custado muito de seu suor e sacrifício... Mas o bando exigia mais, sob pena de matar a criança que, tremendo e chorando se aninhava no colo da mãe, Verônica.
Desesperado, o pai exibiu a carteira vazia, repetindo que não tinha mais nenhum dinheiro. Os bandidos - como sempre fazem nessas circunstâncias - berravam ameaças e palavrões, assustando ainda mais o menino, que chorava cada vez mais alto e intensamente.
Longe de se compadecer com o pânico de uma criança de tão tenra idade, os covardes bandidos se enfureceram, mantendo a arma apontada para ela. Seu débil e choroso pedido de "não me mate" foi sufocado pelo estampido de um tiro fatal!
Quem o disparou  teria razões para ter piedade: Diego Rocha Freitas Campos, de 20 anos, condenado por roubo, havia recebido o benefício da "saída temporária", para comemorar em casa, com sua genitora, o Dia das Mães e, embora devesse ter voltado à prisão no dia 13 de maio, não o fizera... O que não é nenhuma novidade: a cada ano centenas de presos assim beneficiados não cumprem o compromisso de retorno ao cárcere...! E, estranhamente, as autoridades nada fazem para sanear esse descalabro, que tem sido responsável por milhares de delitos de toda espécie!
O que restou de tudo isso foi mais uma barbaridade cometida por vagabundos sanguinários; mais uma família com uma dolorida chaga que jamais vai se fechar e mais uma vergonha para nossa justiça e para nosso país!  E, acima de tudo, uma vida estupidamente ceifada no iniciar de sua existência terrena!
Por triste e cruel ironia, Brayan Yanarico Capcha, o menininho que não queria viver no Brasil morreu no Brasil!

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